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sábado, 20 de fevereiro de 2016

As irmãs Fox e o fantasma batuqueiro do Olodum

Como surgiu o Espiritismo?

Primeiro havia Sauron… hã, desculpe, isso é outra história. Evocar dead people é uma prática também conhecida como necromancia. Mas sua sistematização prática chama-se espiritismo, e iniciou-se no século XIX, no auge da onda positivista. Mas falar de positivismo é pular de necromancia para coprologia sem intervalo. Não dá.

Ao contrário do que muita gente pensa, o espiritismo não surgiu na França, pátria natal de Kardec, mas no Estados Unidos, na cidade de Hydesville, com as irmãs Margarida e Catarina Fox, a partir de 1848. As meninas, de 12 e 9 anos de idade, costumavam fazer brincadeiras para assustar o pai (um pastor evangélico) e a mãe. Por toda a casa, ressonavam barulhos estranhos, que os pais impressionáveis atribuíram a espíritos.

Os truques infantis eram tão ardilosos que acabaram atraindo jornalistas, intelectuais e religiosos. Detalhe: entre os “investigadores”, estava Allan Kardec. Muitos deles afirmaram a veracidade do fenômeno, dando início a um enorme interesse e estudo da possível comunicação provocada entre vivos e mortos.

Por 40 anos, Margarida Fox ganhou muito dinheiro e fama com a divulgação do espiritismo. Porém, em uma crise de consciência, resolveu escrever uma carta para o jornal New York Herald, confessando que tudo havia sido uma farsa.

    “As pessoas que procuram envolver-se com o espiritismo tornaram-se loucas…”

    “Seja qual for a forma a qual se apresente, o espiritismo tem sido e será sempre um a praga e uma armadilha para os que nele se metem.”

    – Margarida Fox, trechos de sua carta publicada no New York Herald, 1888

Nos dias posteriores a essa bomba, milhares de cartas de espíritas inconformados chegaram à redação do jornal, pedindo que Margarida desmentisse sua confissão.

Quatro meses depois, um repórter do jornal a visitou em sua casa, em Nova Iorque. Nessa ocasião, Margarida demonstrou como fazia o truque do “fantasma batedor”, que dava pancadas no assoalho. E também declarou:

    “Sabia, então, que todos os efeitos por nós produzimos eram absolutamente fraudulentos. Ora, tenho explorado o desconhecido na medida em que uma criatura o pode. Tenho ido aos mortos procurando receber deles um pequeno sinal. Nada vem daí – nada, nada. (…) Tenho me assentado sozinha sobre os túmulos, para que os espíritos daqueles que repousavam debaixo da pedra pudessem vir ter comigo. Nada!”

Dias depois dessa segunda reportagem, a outra irmã Fox, Catarina, também tomou vergonha na cara e resolveu jogar cocô no ventilador:

    “Não me importo com o espiritismo. No que me concerne, acabei com isso. E direi: considero-o uma das maiores pragas que o mundo jamais conheceu… Não hesitaria um momento em desmascará-lo. O espiritismo é fraude do princípio ao fim. E é a maior impostura do século.”

    – Catarina Fox, jornal New York Herald, 1888

No dia 21 de outubro de 1888, na Academia de Música de Nova York, centenas de pessoas presenciaram Margarida fazer uma nova demonstração de como realizava seus truques. No ano seguinte, ela tentou desdizer o que havia dito, mas sua reputação já estava arruinada. Porém, com base nesse “desmentido do desmentido”, os espíritas continuam afirmando a veracidade do caso. Imaginem: seria muito chato ter que reconhecer que Kardec era um grande crédulo ou oportunista, já que ele foi um dos “cientistas” que deram crédito às irmãs Fox.

Poucos anos depois, as duas irmãs Fox morreram afundadas no alcoolismo.

(Livro sobre as irmãs Fox: “Falando Com os Mortos: as Irmãs Americanas Que Disseminaram o Espiritismo”. Barbara Weisberg. Ed. Agir, 2011)

Os primeiros teóricos do espiritismo

Um ano antes do caso das irmãs Fox, um avó intelectual do Chico Xavier, Andrew Jackson Davis, publicou uma obra mediúnica chamada “The Principles of Nature, Her Divine Revelations, and a Voice to Mankind”.

Na França, ainda em 1847, surgia “Arcanos da Vida Futura Revelados”, de Louis Alphonse Cahagnet, que fazia parte do grupo dos “magnetizadores” (hipnotizadores) da França. Cahagnet e sua turma se valiam de sonâmbulos para fazer suas mandingas. Aliás, sonâmbulos foi o primeiro nome pelos quais se designou aqueles que hoje denominamos “médiuns”. Foi esse mesmo Cahegnet que em 1856 escreveu o livro “Révélations d´outre-tombe”, em que constam, dizem, mensagens de Galileu, Ben Franklin, Hipócrátes (o pai da medicina), entre outros.

O espiritismo tem em suas raízes o hipnotismo ou mesmerismo, que recebe esse nome por ter sido imaginado pelo médico austríaco Franz Anton Mesmer (1733-1815), que viva em Paris desde 1778. O hipnotismo era visto como uma espécie de “magnetismo animal”, seja lá o que isso quer dizer.
E chegamos a Allan Kardec…

Mas a palavra espiritismo como a conhecemos foi proposta por Hippolyte León Denizard Rivail (1804-1869), mais conhecido pelo seu epônimo Allan Kardec. Por isso, essa forma afrancesada de necromancia recebeu o nome de kardecismo (por quê, ó Deus, aquela nação que já foi chamada “A Jóia da Igreja” tornou-se capaz de produzir tanta titica?).

Kardec era oriundo de uma família CATÓLICA. Aos dez anos foi enviado a Yverdun, na Suíça, para o Instituto Pestalozzi (dirigido na época pelo próprio). Pestalozzi era um protestante calvinista e liberal que, claro, identificava religião com moralidade. Com uma cabecinha dessas…

Tendo permanecido com Pestalozzi até 1822, Kardec voltou a Paris e tornou-se professor, escrevendo vários livros didáticos. Era fruto do seu tempo: metódico, lógico e bom expositor. Um positivista total. Era versado em inglês e alemão, além de ser excelente matemático. Trabalhou como tradutor e contador. Em 1826 casou-se com Amélie Gabrielle Boudet, nove anos mais velha do que ele. Não teve filhos.

Ao contrário da ideia que domina o imaginário popular, Kardec não era versado em religião e não entendia lhufas de teologia. Seu interesse por esses campos foi despertado pelo fenômeno das mesas “girantes e falantes”, com o caso das irmãs Fox. A partir daí, ele abraçou a teoria da presença e atuação dos espíritos.

Em 18 de abril de 1857, publicou a sua obra mais conhecida: “O Livro dos Espíritos”. Mais um livro fundamental do espiritismo é o “Livros dos médiuns”, com o subtítulo: “Guia dos médiuns e dos evocadores”. Destarte, vemos que o espiritismo não existe sem a necromancia.

Outros livros importantes para entender o espiritismo, do mesmo autor, são: “O céu e o inferno” (1865) e “A Gênese” (1868). Convém notar que a linguagem literária e a filosofia por trás desses livros são totalmente ao gosto do clima cientificista da Europa dos anos 1800. Em 1855, Allan Kardec iniciou a publicação da sua “Revista dos espíritos”, que só deixou de ser publicada com esse nome em 1976.

Ainda em vida, Kardec viu chegar o espiritismo no Brasil. O império e D. Pedro II, maçom de quatro costados, receberam o espiritismo de braços abertos. Era uma ideia vinda das “zoropa”, “científica” e metida a chique. Em 1884 foi fundada a FEB – Federação Espírita do Brasil – que tem como órgão de divulgação a revista “O Reformador” que existe até hoje. Com esse nome, a revista recebeu o dedão de aprovação de Lutero, lá do além.

Kardec se dizia guiado pelo “Sprito da verdade” que seria aquele a quem Jesus mandaria para guiar seus discípulos. Fala sério, né! O rapaz, pelo jeito, não havia ouvido falar do Espírito Santo. Isso é que dá leitura seletiva da Bíblia (Kardec só considerava os ensinamentos morais do Sermão da Montanha). Em 12 de junho 1856, ele recebe do tal “Sprito” a seguinte mensagem:

“Previno-te que é rude a tua missão, porquanto se trata de de abalar e transformar o mundo inteiro”.

Foi nessa hora que Kardec começou a ouvir o fundo musical tocar:

Oooooohh… My love! My Darling!

I’ve hungered for your touch

A long, lonely time…

No próximo post, você saberá mais sobre a pretensão do espiritismo ser a Terceira Revelação (bem mais completa do que a de Moisés e Jesus!), e a análise dos demais pontos da doutrina espírita sob a ótica da única Doutrina que é Sã.


FONTE: OCATEQUISTA

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